Roteiros

Escrever os roteiros dos meus quadrinhos é uma etapa extremamente importante e prazerosa da criação das minhas histórias. Do mesmo jeito que tenho meus materiais preferidos na hora de desenhar a página, como um lápis 2b da Koh-I-Noor e meu pincel Series 7, tenho estranhas, mas necessárias, preferências na hora de escrever, que fazem eu me sentir pertencente e seguro naquele lugar. Decidi, antes mesmo de escrever a CAIM, que não usaria Word nos meus roteiros, exatamente pra eles parecerem mais meus. Comecei usando o bloco de notas, mas com o tempo ele foi se mostrando primário de mais para as minhas necessidades, e acabei optando pelo WordPad, que também já vem instalado em qualquer PC. Outra coisa sobre meus roteiros que é importante saberem é que todas as regras que imponho aos quadros (tamanho, descrição do desenho, ambientação) estão ali para, se necessário, serem quebradas. E é nessa mágica diferença entre a ideia, o roteiro e a página pronta que fica a parte mais legal de fazer quadrinhos. Pra terminar mostro o roteiro da história que eu fiz pra segunda edição da Revista online Kamikaze, sobre a dificuldade de pensar antes de agir. Dêem uma olhada na história pronta depois (ou antes) de lerem, pra terem uma ideia melhor do que eu tô falando.

Roteiro "WAR II"
por
Jopa Moraes

PÁGINA 1

Quadro 1
QUADRO 1/6: Visão de mira de rifle em um grupo de soldados perto de um tanque.

NARRAÇÃO Eu nunca penso antes de atirar.

Quadro 2
QUADRO 1/6: O FRANCO-ATIRADOR de perfil, apoiado sobre o joelho esquerdo e segurando um rifle.

NARRAÇÃO Porque pensar implica em várias outras coisas.

Quadro 3
QUADRO 1/6: Visão de mira de rifle em um SOLDADO falando num walktalk.

NARRAÇÃO Como entender que esse tiro atinge alguém.

Quadro 4
QUADRO 1/6: CLOSE no rosto de um SOLDADO falando num walktalk.

NARRAÇÃO E que esse alguém tinha uma vida antes de levantar a cabeça e olhar a bala vindo em sua direção.

Quadro 5
QUADRO 1/6: Visão de cima da metade de cima de um caixão fechado, no meio do cemitério de noite. A narração se encontra na parte superior do quadro.

NARRAÇÃO E que a bala que perfura o ar velozmente vai guiá-lo direto pra dentro de um caixão.

Quadro 6
QUADRO 1/6: Visão de cima da metade de baixo de um caixão aberto com um corpo dentro, que só vemos as pernas, no meio de um cemitério de dia. Ao redor dele uma ou duas pessoas de pé e uma mulher caída chorando aos pés do caixão. A narração se encontra na parte inferior do quadro.

NARRAÇÃO Deixando sozinhos e sem nenhuma perspectiva seus pais, sua namorada, seu irmão...  

PÁGINA 2

Quadro 1
QUADRO 1/6: A mãe do FRANCO-ATIRADOR recebendo uma carta de um mensageiro do exército.

NARRAÇÃO Daí me viria o sofrimento dos meus próprios pais, os choros que duram a tarde toda, a dor que dura pra sempre, caso o perfurado fosse eu.

Quadro 2
QUADRO 1/6: a cabeça do FRANCO-ATIRADOR de perfil, na parte esquerda do quadro. O fundo todo preto, apenas com um raio branco que termina na cabeça dele, como o rastro de um tiro.

NARRAÇÃO E sentiria uma estranha coceira cabeça.

Quadro 3
QUADRO 1/6: CLOSE na mão do FRANCO-ATIRADOR segurando o rifle.

NARRAÇÃO O rifle ficaria pesado de mais e eu teria que arremesá-lo pra longe, com medo de pensar que estava carregando ele até agora.

Quadro 4
QUADRO 1/6: CLOSE no rosto do FRANCO-ATIRADOR de semiperfil, fechando o olho pra mirar.

Quadro 5
QUADRO 1/6: CLOSE no dedo indicador do FRANCO-ATIRADOR, puxando o gatilho do rifle. A narração se encontra na parte de cima do quadro.

NARRAÇÃO É por isso que eu não penso. Porque pensar dói.

Quadro 6  
QUADRO 1/6: CLOSE no rosto de um SOLDADO com uma bala perfurando sua cabeça.

NARRAÇÃO Eu só puxo o gatilho.

FIM